O PLUGUE DA CONFUSÃO

O PLUGUE DA CONFUSÃO

Há um novo padrão de conexão elétrica no País, causando dúvidas entre os usuários. Veja aqui o que isso muda na sua casa.

 

Por Vinicius Barbosa Lima

A norma foi criada em 2002, e seu objetivo era padronizar a fabricação e o uso de tomadas e plugues elétricos, além de oferecer maior segurança nas instalações. Mas, na prática, o que se tem visto é uma grande confusão entre usuários e até profissionais do mercado. 

Até recentemente, pouco ou quase nada havia sido divulgado sobre a mudança, que agora causa surpresa e uma série de dúvidas na população. Nesta e nas próximas páginas, procuramos esclarecer a maioria delas. Acompanhe:

 

1.Por que mudar os conectores elétricos? Havia mesmo necessidade disso?

Não era necessário mudar, mas sim padronizar e regulamentar. O problema vem sendo analisado há anos. As instalações elétricas brasileiras são, em geral, de má qualidade, sujeitando os usuários a acidentes e prejuízos com seus equipamentos. Além disso, existem inúmeros tipos de conectores sendo usados. Decidiu-se então criar um padrão único, baseado no IEC 60906-1, homologado pelo International Electrotechnical Commission em 1986 e que pretendia tornar-se um padrão “universal”. Entretanto, passados 23 anos, a verdade é que a idéia não pegou. O Brasil talvez seja o único país do mundo a efetivamente adotá-lo.

 

  1. Por que esse padrão não é compatível com os que são utilizados hoje?

Devido às características físicas da tomada, que possui formato hexagonal e rebaixo para engate do plugue, o novo padrão só é compatível com ele mesmo. O contato elétrico se dá por pinos redondos em configuração bipolar (dois pinos) ou tripolar (dois pinos + aterramento). Por sua vez, as tomadas possuem baixo relevo de 8 a 12 milímetros, para encaixe do cabo de força. Cedo ou tarde, isso forçará todos os brasileiros a trocarem suas tomadas de parede e/ou plugues dos cabos.

 

3.Por que a mudança está sendo feita assim, sem maior divulgação e sem um prazo para que todos possam se adaptar?

Houve uma total negligência do governo quanto à divulgação da mudança. Pela resolução original do Conmetro, em 2006 deveria ser promovida uma “ampla campanha de divulgação para esclarecimento aos consumidores”, a cargo do Inmetro. Obviamente, nada foi feito, e somente agora, com a nova regra batendo às portas, está havendo alguma preocupação a respeito. Como a norma é de 2002 e sua entrada em vigor já foi várias vezes postergada, o período de transição na prática já transcorreu.

 

4.Todos os aparelhos virão somente com o plugue novo? Quais os prazos para sua implantação?

A partir de 1o. de janeiro de 2010, fica proibida a fabricação ou importação de equipamentos cujas tomadas e cabos de força estejam em desacordo com a Norma NBR 14136:2002. Estoques antigos de produtos que não atendam à norma poderão ser comercializados por fabricantes e importadores até outubro de 2010. Para o varejo, esse prazo vai até julho de 2011. Cabos, tomadas e seus componentes, quando vendidos em separado (ou seja, não incorporados ao aparelho) poderão ser comercializados até janeiro de 2011.

 

5.Vou ter que trocar todas as tomadas da minha casa? 

Não, por ora ninguém é obrigado a sair trocando as tomadas. Entretanto, havendo necessidade de substituição, não mais será possível encontrar os modelos antigos. Mas é provável que você já tenha em casa equipamentos dotados dos novos plugues hexagonais, que são utilizados por várias empresas desde 2002. O problema é que nas lojas ainda persistem os plugues antigos, caso de alguns televisores de plasma e LCD e aparelhos de informática. E, contrariando um dos principais objetivos do novo padrão (a segurança), já começam a surgir adaptadores capazes de compatibilizar os plugues antigos às novas tomadas. 

 

6.Não existe um padrão comum entre os países? Como fazer com aparelhos importados?

Não, infelizmente não há um único padrão internacional de tomadas, cada país adota o seu. O que existem são padrões reconhecidos pelo IEC, e que acabam sendo genericamente chamados de “universais”. Por exemplo, o eficiente padrão americano NEMA 5-15/20, que conhecemos pelos equipamentos de informática e eletrônicos, inclusive importados. É atualmente o padrão de tomadas mais utilizado no mundo.

 

7.Estou construindo minha casa: o que devo observar quanto a essa mudança?

Além de adotar plugues e tomadas do novo padrão, dando sempre preferência às boas marcas, é importante atentar para outra importante regulamentação (esta sim, muito útil) que também mereceu divulgação “zero” por parte do governo. Uma lei sancionada pelo presidente Lula em 2006 determina que todas as novas construções incorporem sistemas de aterramento, corrigindo assim uma velha deficiência das instalações elétricas brasileiras. Outra exigência importante é que equipamentos com carcaças metálicas e sensíveis às variações de tensão possuam fio-terra e tomada tripolar, o que torna recomendável instalar o máximo de tomadas de três pinos pela casa.

 

8.Os plugues novos funcionarão nas tomadas antigas? E o contrário?  

Para o plugue ser compatível com o novo padrão de tomadas não basta ter pinos redondos e formato hexagonal. Há diferenças. Foram instituídos dois “tamanhos” de plugues, definidos conforme a máxima capacidade de corrente admitida, para 10A e 20A (ampères). Os pinos para 20A são mais grossos: onde você engata um, não engata o outro. Essa medida visa aumentar a segurança, evitando que plugues e tomadas sejam submetidos a cargas acima das projetadas. Os plugues novos podem servir nas tomadas antigas (algo que já acontece hoje, dependendo do modelo de tomada e do próprio plugue), mas os plugues antigos não servem nas tomadas novas.

 

9.E quanto ao preço, o novo padrão é mais caro ou mais barato? 

Pesquisando algumas das principais lojas do mercado, constatamos que não houve alteração significativa nos preços em relação ao que já era praticado. Por outro lado, nos poucos locais onde ainda foi possível encontrar modelos antigos os preços eram exorbitantes. Constatamos também diferenças superiores a 800% para itens semelhantes, quase sempre por conta da “grife” ou qualidade associada ao produto. Numa simulação simples, e considerando uma residência padrão (2 quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço), dotada dos eletrodomésticos e eletrônicos de costume, o gasto para adesão total ao novo padrão fica entre R$ 450 e R$ 800, conforme a quantidade e qualidade de tomadas e plugues de aparelhos a serem substituídos.

 

10.No caso de aparelhos de áudio e vídeo, há algum cuidado extra a ser tomado?

A mudança afetará particularmente a vida dos amantes do áudio e vídeo de alto desempenho. Tomadas e plugues “Hospital Grade” ou “Audio Grade” (mais detalhes na edição nº 162) são sempre no padrão americano Nema 5-15/20, que agora está proibido no Brasil. Vasculhando o mercado, praticamente não encontramos nada que se aproxime em qualidade às tomadas Audio Grade. Portanto, esta é uma decisão de compromisso: cumprir a nova norma brasileira e usar só o que estiver disponível nas lojas? Ou importar plugues e tomadas de alta qualidade para home theater, mesmo sabendo que eles não atendem à regulamentação? Se bem executada, sua instalação elétrica ficará perfeitamente segura com ambas as soluções. Já quanto ao desempenho do sistema, toda a vantagem fica para os produtos Hospital Grade ou Audio Grade.

 

11.Essa regulamentação valerá também para condicionadores e no-breaks? Poderei conectar meus aparelhos a eles e manter a tomada antiga? 

Sim. Conforme os prazos já citados na questão 4, todos os setores da indústria terão que se adequar, inclusive o de informática. É inevitável (e obrigatório) que fontes de força para computadores, no-breaks, estabilizadores, filtros de linha, condicionadores de energia, etc. adotem o novo padrão. Quanto à flexibilidade de conexão, de início fatalmente recairemos nos temíveis adaptadores; até que todo o parque de plugues e tomadas tenha sido substituído, algo que deve demorar muitos anos.

 

12.O que acontece com empresas que não cumprirem a determinação? 

As punições possíveis para a empresa que descumprir a norma vão de multas, restituições de valores por conta de ações e processos individuais ou coletivos, até a negativa da certificação Inmetro. Isso seria, digamos, “um tiro no pé”, ante o prejuízo que traria à imagem e confiabilidade da empresa. Mas ainda não está claro na legislação brasileira se normas técnicas possuem força de lei. Há histórico de entendimentos conflitantes na esfera judicial.