MINIDICIONÁRIO HIGH-END

MINIDICIONÁRIO HIGH-END

Ambiência, palco sonoro, transparência… explicamos alguns dos termos ligados ao mundo do áudio que geram mais dúvida entre os leitores.

 

Por Vinicius Barbosa Lima

 

É comum o leitor de publicações especializadas em áudio doméstico encontrar expressões inusitadas diluídas em alguns textos. Geralmente, isso ocorre em testes de equipamentos, notoriamente aqueles destinados ao segmento de áudio high-end, para o qual parece ter sido desenvolvido um linguajar próprio e característico. 

Muitas dessas expressões conduzem a uma rápida interpretação, pois sugerem sensações ou situações já familiares (ainda que utilizadas em outro sentido). Outras, porém, soam de forma metafórica e incompreensível, e parecem mais adequadas ao vocabulário de poetas do que ao de articulistas de áudio. 

Explicando melhor, quando se fala em “som ardido”, rapidamente nossos sentidos nos lembram de algo estridente e incômodo. Já expressões como “agudos líquidos”, “médios congestivos”, “graves barrigudos e lentos”, e outras costumam ser difíceis de ser interpretadas até pelos que convivem diariamente com o universo do home theater.

Sendo o áudio doméstico uma prática com elevado grau de subjetividade, é impossível listar e detalhar todos os termos utilizados. Afinal, muitas vezes, a sua correta interpretação vai depender, tão e somente, da imaginação e do sentimento de quem redigiu o texto, já que a expressão pode ter sido usada com significado abstrato ou figurado. 

Há, portanto, de se levar em conta os critérios pessoais, embora exista um certo consenso – no meio audiófilo – a respeito da terminologia empregada mais freqüentemente.

Diante disso, decidimos vasculhar algumas das mais conceituadas revistas de áudio do mundo em busca dos termos mais comumente utilizados por essas publicações. A partir dessa pesquisa, surgiu este minidicionário comentado do universo high-end. Sua função é realmente explicar, simplificar a vida dos usuários de home theater, fazendo com que passem a entender melhor essa apaixonante linguagem do áudio.

 

Ambiência

Trata-se da sensação de envolvimento, do “clima” gerado no local da gravação. Quando registrada adequadamente pelo engenheiro de áudio, a ambiência ajuda a recompor a impressão de realidade, do “estar lá”.

Imagine-se num estádio de futebol lotado numa final de campeonato. Certamente, você estará submetido a uma infinidade de sons, imagens e sensações que, juntas, ditarão o clima do evento. O mesmo pode-se dizer de uma apresentação numa bela sala de espetáculos, onde a profusão de freqüências que vagam pelo ambiente (vozes, instrumentos, aplausos, e outras) caracterizam bem o que se passa num acontecimento musical ao vivo. Espera-se, então, que tudo isso seja corretamente recuperado e reproduzido – eletronicamente – por nossas configurações domésticas de áudio.

Coloração

Comum no meio audiófilo, é uma analogia que busca relacionar sons e cores. Como o espectro audível situa-se entre 20Hz e 20kHz, e a luz visível vai do vermelho ao violeta, seria como dizer que sons de 20Hz correspondem à cor vermelha, enquanto que 20kHz equivalem ao violeta. Já a freqüência de 3kHz poderia estar relacionada, por exemplo, a alguma tonalidade de amarelo.

Em áudio, este termo é usado para relatar que alguma faixa de freqüência não está sendo reproduzida corretamente por um equipamento específico. Não no sentido de que haja “distorção”, mas sim de que soe, no mínimo, de forma diferente do esperado. Isso fica claro quando se diz algo como “aquela caixa colore muito na região média”.

Cristalino

Este termo, que vem do cristal (vidro refinado e com grande grau de transparência), é usado para definir o nível de realidade e reprodução de detalhes quando se ouve uma música. Similar à transparência.

Dinâmica

Expressão claramente técnica, é perfeitamente associada à Mecânica Clássica (Física), que estuda movimentos e todas as forças atuantes e variações de intensidade.

Em termos de áudio, reflete a capacidade do sistema em reproduzir as inúmeras variações de intensidade sonora durante a reprodução musical, de um tênue (e quase inaudível) suspiro ao mais estrondoso rufar de tambores. De um modo simples, pode-se dizer que é a diferença entre sons altos e baixos.

Considerando que a reprodução sonora (musical ou filmes) é sempre acompanhada de grandes variações de amplitude sonora, a boa reprodução dinâmica é uma das principais características a ser alcançada por qualquer sistema de alta fidelidade. É ela que indica, por exemplo, se o maestro regeu a orquestra com tranqüilidade ou fúria. 

Distorção

Toda e qualquer deformação dos sinais de áudio, perceptível ou não. Ainda que a distorção possa se apresentar de várias formas, este termo nos leva a uma rápida idéia do que se trata. Afinal, basta aumentar o volume daquele microsystem do seu quarto para ouvir claramente o que são distorções manifestadas na forma de chiados, ruídos e perda de clareza sonora. Diz-se, então, que a caixa ou o amplificador está distorcendo o som, algo geralmente ligado à falta de potência ou à pobreza de projeto do amplificador, ou ainda a sua incompatibilidade técnica com a caixa acústica que está alimentando. 

Musicalidade

  Sugere algo agradável ao ouvinte, é o puro e simples prazer de ouvir músicas das quais se gosta. Sendo uma definição subjetiva, por motivos óbvios, não depende da acústica ou de atributos técnicos do sistema.

Em geral, tal sensação é relacionada a experiências anteriormente vividas pelo usuário, seja na apreciação de música ao vivo ou mesmo eletrônica. Até uma simples mudança de humor ou estado emocional pode alterar a musicalidade de certa obra aos nossos ouvidos.

 

Oitava

Expressão comum no meio musical, é o intervalo entre duas notas iguais, subindo ou descendo o tom. São sete as notas musicais básicas: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. Uma seqüência de oito notas chama-se oitava.

Quando relacionado à freqüência de áudio, este termo significa o dobro ou a metade de uma dada freqüência referencial. Assim, para a freqüência de 80Hz, a oitava superior corresponde à 160Hz, e a inferior à 40Hz.

 

Palco sonoro

Trata-se da ilusão que surge quando duas ou mais caixas acústicas interagem entre si, gerando ao ouvinte a sensação dele estar de frente para o palco de uma casa de espetáculos. Dentre todas as ilusões relativas ao áudio, talvez seja esta a mais perseguida e de difícil alcance. 

Pessoalmente, acho que há uma exagerada valorização do elo eletrônico (leia-se equipamentos) na busca pelo palco sonoro. Ainda que uma boa configuração seja imprescindível, a obtenção de um palco correto está mais ligada ao posicionamento das caixas acústicas e do ouvinte, como também à acústica da sala.

Como o palco de uma casa de espetáculos é um ambiente físico (real) e tridimensional (com altura, largura e profundidade), espera-se que a mesma obra musical, ao ser reproduzida por um sistema doméstico, apresente semelhante tridimensionalidade, ou seja, passe ao ouvinte a impressão dele estar de frente para um palco imaginário, porém de dimensões reais.

Para isso, existem alguns truques, como instalar as caixas frontais com o tweeter na mesma altura ou pouco acima do nível dos ouvidos de uma pessoa sentada. Esse recurso favorece o ganho na altura do palco, fazendo parecer que o cantor está “em pé” a sua frente, e não sentado.

Afastar as caixas frontais – uma da outra – ajuda a aumentar a largura do palco. Porém, isso deve ser feito com cuidado, pois quando essas caixas são demasiadamente afastadas, você pode perder o efeito estéreo. Já para ganhar em profundidade, uma sugestão é aproximá-las.

 

Resolução/definição

São palavras usadas para generalizar a capacidade de um equipamento em reproduzir todos os detalhes e microdetalhes do acontecimento musical. O importante aqui é a quantidade de informações reproduzidas. Já a qualidade da reprodução está mais ligada aos termos transparência e cristalino.

 

Sinergia

É o esforço da configuração de áudio na tentativa de realizar a sua função mais importante: reproduzir música com a máxima proximidade possível do original. 

Isso se dá pelo correto “casamento” entre os equipamentos que compõem o sistema e a sala, buscando sempre a melhor combinação possível. Exemplo: a caixa “x” apresenta melhor sinergia (compatibilidade) quando associada ao amplificador “y” do que quando associada ao amplificador “z”.

 

Textura

Esta palavra nos leva rapidamente a pensar em algo relacionado ao sentido táctil, como a textura da pele de uma criança, ou de uma superfície qualquer revestida.

Na área de áudio, significa a capacidade em reproduzir fielmente todas as características sônicas de um determinado instrumento, desde seu timbre particular até suas variações mais tênues. A correta textura propicia que o timbre de um instrumento específico seja reproduzido de forma natural, como numa apresentação ao vivo.

 

Timbre

Característica sonora particular de um determinado tipo de instrumento musical, a qual é inconfundível. Poderíamos dizer que é a “assinatura sônica” do instrumento. Por exemplo: o timbre do violino jamais poderá ser confundido com o do violão.

 

Transientes

Passagens ou sinais musicais de curta duração e aperiódicos (transitórios). Os transientes são determinantes na percepção de súbitas mudanças e/ou combinações entre instrumentos, facilitando o reconhecimento de cada um deles.

 

Transparência

Interligado e dependente de outros conceitos, este termo refere-se à capacidade do sistema em reproduzir todos os detalhes e sons contidos na obra musical, com a mais alta qualidade possível.

Num sistema muito “transparente”, o som do estilhaçar de uma vidraça soa de forma tão real que sugere a ilusão de que o evento está ocorrendo dentro da nossa própria sala. Em toda a cadeia de reprodução eletrônica do som, é um dos objetivos mais altos a ser alcançado. Quanto maior a qualidade da configuração (e geralmente o preço), maior o grau de transparência na reprodução sonora. 

 

Velocidade

É a capacidade do equipamento em responder adequadamente aos transientes musicais, o que permite a rápida e controlada interpretação das notas, sem sobreposições, nem perda da clareza e da inteligibilidade.

 

Gravação: o começo de tudo

Para perceber e apreciar várias das sensações descritas ao longo deste artigo, não basta ter uma eletrônica invejável ou uma sala exemplar. Antes de mais nada, parte dos conceitos citados está intrinsecamente ligada à qualidade da gravação, pois como será possível reproduzir em nossos ambientes domésticos a ambiência ou o palco sonoro de uma apresentação ao vivo se o engenheiro de áudio responsável pela gravação não conseguiu captá-los?

Portanto, o primeiro passo para a reprodução musical de alta fidelidade é dado não em nossas residências, mas sim nos estúdios de gravação e mesas de mixagem. Conclusão: somos todos reféns do bom gosto (e competência) dos engenheiros de áudio.