LOCADORA: SÓ SE FOR VIRTUAL

LOCADORA: SÓ SE FOR VIRTUAL

A possibilidade de ver filmes na tela da TV a qualquer hora (e sem sair de casa) seduz brasileiros e empresas internacionais, como a Netflix.

 

Reportagem de Eduardo Bonjoch

 

Foi-se o tempo em que as emissoras de TV ditavam as regras. Atualmente, é o próprio telespectador que escolhe o que quer e quando quer ver sua atração favorita. Na lista, podem estar filmes, shows e até programas da TV aberta e paga.

A possibilidade de “fazer” a própria programação começou a se tornar realidade para um número maior de usuários com a disseminação dos serviços de Video-On-Demand (VoD) em 2011. Embora recente, esse modelo de negócio já vem sendo explorado por três das maiores operadoras de TV paga (Sky, Net e TVA) e também está entre as prioridades da GVT, que iniciou suas operações no setor em setembro.

Mas você não precisa ser assinante de TV paga para ter Video-On-Demand no seu TV. Modelos com acesso à internet das marcas Samsung, LG, Sony e Panasonic também disponibilizam esse serviço através de parcerias com emissoras, no caso da Sony (SBT e Band), e com empresas especializadas na área de locação virtual, no caso da Samsung, da LG e da Panasonic.

Quatro aplicativos disputam a preferência dos usuários de Smart TVs: NetMovies, Saraiva Digital, Terra TV Video Store e, mais recentemente, Netflix, cujo app está no ar desde setembro em alguns televisores da Samsung – LED-LCDs das linhas D7000 e D8000 e plasmas da série D8000. “Temos uma parceria muito forte com eles nos EUA e isso facilitou as negociações para embarcar o aplicativo primeiro em nossos televisores”, afirma Rafael Cintra, gerente de TVs da Samsung.

Nos quatro casos, a operação é semelhante: o usuário se cadastra (via computador) e, depois disso, passa a ter acesso à tela de navegação direto no TV. Em geral, o processo é bem simples, para facilitar as operações pelo controle remoto. A Netmovies e a Netflix só trabalham com planos de assinatura mensal, que incluem locações on-line ilimitadas (via streaming de vídeo, como o YouTube) de todo o acervo. 

Já a Saraiva Digital trabalha apenas com o aluguel por título. O Terra TV Video Store atua das duas formas. Os valores praticados variam de R$ 9,99 a 19,90 (assinaturas mensais); e de R$ 3,90 a 6,90 (aluguel por título).

A entrada da Netflix, a maior locadora virtual do mundo, também deve ajudar a popularizar esse tipo de serviço no Brasil. “Este é primeiro grande empreendimento internacional da Netflix”, comentou Reed Hastings, co-fundador e CEO da Netflix, em recente visita a São Paulo. “Resolvemos começar por aqui por causa do bom momento econômico vivido pelo país e pela paixão do brasileiro por filmes e vídeos”. 

Otimista, ele acredita que a expansão de seus negócios por aqui vai acompanhar o ritmo de vendas acelerado dos TVs conectados. “Em 5 anos, todos os televisores brasileiros terão acesso ao aplicativo da Netflix”.

A parceria com a Samsung não é exclusiva. O próprio Hastings garante que, até o final do ano, o serviço estará disponível em TVs de todas as marcas. Embora tenha deixado escapar em evento internacional que o aplicativo da Netflix chegaria aos seus TVs em setembro, a LG ainda não confirmou a parceria no Brasil. “Estamos abertos para essa aliança”, declarou recentemente Milton Neto, gerente-geral de Smart TVs da LG. “Se a Netflix quiser, nós também temos interesse em disponibilizar o aplicativo aos nossos usuários”.

Com mais de mil horas de conteúdo, entre filmes, novelas e séries, disponíveis para os usuários brasileiros, o serviço da Netflix também já está presente em computadores e nos videogames Nintendo Wii e PlayStation 2 e 3. Sobre a carência de filmes novos, Hastings adiantou que a empresa vai respeitar uma janela de exibição de cerca de um ano em relação ao lançamento nos cinemas. Nas séries, a diferença será de uma temporada, levando em conta a grade da TV paga. Por enquanto, a Netflix não chegou a um acordo para oferecer o conteúdo da rede Globo no Brasil, embora esteja disponível em outros países.  

 Em entrevistas com executivos do setor, descobrimos que esse longo prazo de janela é comum para as empresas que trabalham com planos de assinatura mensal. Por conta disso, algumas delas, como a Saraiva e o Terra, estão dando outra opção ao consumidor: a possibilidade de locar títulos on-line de forma avulsa. “O regime de assinatura mensal cria mais barreiras na negociação de lançamentos com os estúdios”, afirma Deric Degasperi Guilhen, diretor de Produtos Digitais da Saraiva, que só trabalha com locações avulsas.

Pedro Rolla, diretor de Mídia do Terra, concorda. Por isso mesmo, a empresa resolveu atuar das duas formas. “Quando oferecemos a locação avulsa de um filme, a janela em relação aos cinemas cai para cerca de três meses, deixando o conteúdo mais atualizado para o usuário.” Procurada pela nossa equipe, a NetMovies, outra empresa do setor, não se pronunciou até o final desta edição.

Mesmo assim, os aplicativos para web-TV não vêm conseguindo acompanhar o ritmo de lançamentos dos serviços de Video On Demand oferecidos pelas operadoras de TV paga, principalmente Net e Sky. E aqui a explicação é simples: as principais operadoras também são parceiras dos estúdios em sua grade de TV paga, o que facilita as negociações. “A vantagem, no caso dos TVs conectados, é a democratização do serviço, que está disponível para qualquer usuário e não apenas para assinantes de pacotes de alta definição”, esclarece Pedro Rolla, do Terra.

Embora o conceito de VoD seja o mesmo em qualquer plataforma, existem diferenças. Na TV paga, a maioria dos filmes e shows é disponibilizada em alta definição e som 5.1, exigindo que o usuário seja assinante de um pacote HD. Além disso, o som e a imagem do VoD chegam à casa do assinante através de rede cabeada ou via satélite. 

Nos aplicativos dos web-TVs, o usuário depende totalmente da velocidade do plano de banda larga, estando mais vulnerável aos travamentos. Fabricantes e provedores recomendam no mínimo uma conexão de 2MB para conteúdos standard (que são a maioria) e de 4MB para filmes em alta definição. 

As operadoras se defendem. Sobre a entrada da Netflix no mercado brasileiro, a Net mostra desconfiança. “As condições para o estabelecimento das novas empresas precisam ser idênticas às das já estabelecidas”, disse José Antonio Felix, presidente da Net Serviços, durante a ABTA 2011 em agosto. “O que não pode é ocupar 90% da rede de banda larga da Net e não pagar por isso. Além disso, é preciso investir em infra-estrutura e na geração de empregos, como fazemos.” Procuradas posteriormente pela reportagem, as operadoras preferiram não comentar o assunto.

Preparadas para o desafio, as empresas que já disputam o segmento de locação virtual garantem não ter medo da gigante americana. “O maior desafio da Netflix será emplacar o serviço de locação digital sem ter uma base física prévia de assinantes, assim como aconteceu nos EUA”, comenta Guilhen, da Saraiva. Segundo ele, outro ponto-chave são as particularidades do usuário brasileiro, que dá muito valor para a usabilidade do serviço e a experiência de compra, características que privilegiam as empresas já estabelecidas por aqui.

 

TESTAMOS O SERVIÇO DA NETFLIX

Por Ricardo Marques

Assim que o serviço foi liberado para o Brasil, fizemos o download do aplicativo em um Smart TV Samsung da linha D8000 com 55”. Para liberar a reprodução em alta definição, é necessário acessar o menu SUA CONTA e selecionar GERENCIAR QUALIDADE DE VÍDEO. Só é possível fazer estes ajustes acessando a página da Netflix no seu computador.

Optamos por deixar habilitada a opção QUALIDADE SUPERIOR, para que a reprodução com o máximo de resolução fosse sempre priorizada. Na prática, é necessário ter uma conexão de, pelo menos, 5Mbps para que não haja nenhum tipo de problema durante a reprodução.

Embora haja um grande acervo de filmes à disposição, pouquíssimos são realmente recentes ou grandes blockbusters, que lotaram as salas de cinema. Com esse perfil, encontramos apenas Velozes e Furiosos 4 (2009), que foi oferecido com resolução HD (embora não esteja claro se em 720p ou 1080i/p) e estranhamente apenas com a opção de áudio dublado.

Com o filme em andamento, valendo-se de uma conexão de 10Mbps, não notamos qualquer travamento, mas ficamos decepcionados com a qualidade da imagem anunciada como HD. Embora seja impossível mensurar, nossa equipe chegou ao consenso de que, no máximo, tratava-se de um filme com resolução 480i, ou seja, a mesma dos filmes em DVD. 

Mas, mesmo baixa, a qualidade de imagem era superior à oferecida por empresas como NetMovies, Saraiva Digital e Terra TV Video Store (veja teste destes serviços na HT no.  181), inclusive em relação às opções em HD disponibilizadas pelo Terra.

A título de comparação, Milk – A Voz da Igualdade, que não era oferecido em HD, apresentou qualidade muito semelhante à de Velozes e Furiosos 4. E, mais uma vez, apenas na opção dublado. Outra surpresa nada agradável foi perceber que alguns filmes, como O Albergue 2, apesar de incluir três opções de áudio, não apresenta legendas, forçando quem não sabe falar outro idioma a escolher sempre a opção dublada.

Embora os serviços de locação virtual estejam restritos a três fabricantes de TVs (como mostra o quadro abaixo), as empresas do setor garantem que, a exemplo da Netflix, estão em negociação com as outras marcas. Por outro lado, mais complicada que a negociação é a adaptação técnica dos aplicativos aos televisores. “Estamos conversando com a Philips e já firmamos parceria com a Samsung, mas ainda dependemos de aprovações técnicas”, explica Deric Degasperi Guilhen, da Saraiva.

Mas ele alerta que, por limitações tecnológicas, apenas os TVs mais novos – linha 2011 – vão comportar o aplicativo. O grande problema está em um mecanismo de proteção de conteúdo, chamado DRM (Digital Rights Management), que impede a realização de cópias não autorizadas. Grande parte dos TVs conectados à venda nas lojas não reconhece essa proteção, que é exigida pelos grandes estúdios durante as negociações. “É fundamental que o televisor dê suporte à proteção DRM, porque sem essa segurança é impossível disponibilizar nosso aplicativo”, confirma Pedro Rolla, do Terra.

 

LOCADORAS VIRTUAIS NA TV:

QUEM SÃO OS PARCEIROS?*

 

SERVIÇO LG PANASONIC SAMSUNG

Netflix Não       Não     Sim

NetMovies Sim       Não     Sim

Saraiva Digital Sim       Não     Não

Terra TV Video Store Sim       Sim     Não

 

* Philips e Semp Toshiba não são parceiras de nenhuma das empresas citadas; a Sony só oferece Video-On-Demand de emissoras de TV, como Band e SBT.

 

GVT TV APOSTA EM MODELO HÍBRIDO

 

Uma das grandes inovações do serviço GVT TV, que foi anunciado ao mercado em setembro, é a adoção de um modelo híbrido nas operações de TV paga. Isso porque a empresa, que é controlada pelo grupo francês Vivendi, resolveu misturar a transmissão de canais de TV via satélite (DTH) com a rede IP (web) para outros serviços, que incluem a integração com redes sociais e a oferta de conteúdo sob demanda. “O mundo está caminhando para a combinação dessas tecnologias e somos pioneiros nesse tipo de experiência no Brasil”, afirma Amos Genish, presidente da GVT.

E aqui está a grande diferença para as outras operadoras. O serviço de locação virtual de filmes, séries e documentários vai funcionar através da rede de banda larga (como nos TVs conectados) e não pelo cabo/satélite. Segundo a GVT, haverá conteúdo gratuito, venda avulsa (a partir de R$ 4,90) e assinatura mensal. Com o modelo híbrido, o assinante também ganhará outros recursos, como a possibilidade de acessar o Twitter enquanto assiste a seu programa favorito. E pelo serviço Power Music Club na TV, poderá montar playlists de videoclipes e shows, fazendo sua própria programação musical.

A comercialização dos pacotes da GVT TV começa este mês e será exclusiva das cidades onde a operadora já oferece serviços de telefonia e banda larga. “Estamos presentes em 106 cidades e nossa meta é chegar a 180 até 2016, atingindo de 100 mil a 500 mil novos clientes”, diz Genish. Todos os pacotes terão canais fechados de alta definição. Com cinco canais HD e valor bem agressivo, o pacote mais econômico custará apenas R$ 59,90. Se quiser incluir um gravador digital de 500GB, o assinante terá de pagar mais R$ 29,90 mensais em qualquer pacote.