FAÇAM SUAS LISTAS

FAÇAM SUAS LISTAS

Na virada do século, seleções do tipo “the best of” podem ser uma boa forma de checar as grandes gravações que ainda faltam em sua discoteca.

 

Por Orlando Barrozo

 

Durante todo o ano passado, circularam pela imprensa e pela internet as mais diversas listas de “melhores do século”. Filmes, livros, vídeos e discos foram os itens mais listados, e utilizando todo tipo de critério. As próprias editoras de livros, produtoras de filmes e gravadoras de discos estimulam esses levantamentos, que sempre funcionam como apoio às vendas. 

Em geral, são especialistas que votam nos seus preferidos. Por isso, ainda que sempre gerando polêmica, o consumidor interessado sempre tem o que tirar dessas enquetes: no mínimo, muitos filmes, discos ou livros que estavam esquecidos passam a ser descobertos e/ou revalorizados.

Falando especificamente de música: por maior que seja a sua discoteca, é pouco provável que você já tenha TODOS os discos que fazem parte das listas abaixo. Peça para o seu melhor amigo escolher os, digamos, 10 melhores discos de rock e pode apostar que essa lista não irá bater com a sua. Ou com a do melhor crítico de jazz que você conhece. 

Isso vale também para jazz, MPB ou qualquer outro gênero. Aliás, vale para qualquer tipo de lista – até mesmo a das 10 mulheres mais sexy do País, ou a das 10 mais do clube que você freqüenta. Nada disso, porém, invalida as tais enquetes, que têm, entre outras finalidades, a de checar até que ponto você está atualizado com seu gênero de música preferido.

Recentemente, uma rádio FM de São Paulo pediu a seus ouvintes que votassem nas melhores canções da história do rock. Saiu dessa votação uma lista com 500 músicas, e mesmo com boa vontade é difícil afirmar que todas elas são, mesmo, clássicos do gênero. Na verdade, a idéia foi copiada de uma rádio inglesa que fez o mesmo há cerca de um ano, pegando a moda das listas “the best of” do século 20. Especializada em algo chamado “classic rock”, a emissora faturou semanas em cima da tal votação, tocando exaustivamente as 500 mais.

Fãs em geral adoram listas, e é por isso que muitas delas freqüentam habitualmente a internet. A revista norte-americana Stereophile, por exemplo, no final do ano apresentou suas três listas, cada uma com 100 títulos: os melhores de todos os tempos em rock, jazz e erudito. A diferença é que não são listas democráticas: ninguém votou – cada crítico da revista foi encarregado de elaborar, sozinho, sua relação de 100. 

O que acaba, invariavelmente, levando a aberrações. Conscientes desse risco, os três colocaram seus escolhidos não em ordem de importância mas… em ordem alfabética! Assim, fica em aberto quem de fato são os melhores.

Como papel e internet aceitam tudo, há por aí uma profusão de listas que qualquer um pode elaborar – às vezes, autoproclamando-se “especialista” no assunto. É bom, portanto, tomar cuidado para não transformar tais escolhas em “opinião da crítica especializada”. 

Melhor é quando os autores das seleções assumem abertamente que se trata de uma espécie de brincadeira, com tudo de bom e ruim que isso implica. A loja virtual americana Amazon levou isso ao pé da letra e, numa ótima jogada de marketing, criou uma seção chamada Listmania, cuja utilidade é exatamente… divulgar listas as mais variadas.

Naquele espaço, qualquer mortal pode, em princípio, publicar listas de CDs recomendados sob este ou aquele critério, ou “o melhor de” qualquer gênero, estilo ou tendência musical. Mais ainda: explorando ao máximo a interatividade que a internet propicia, o site permite que outras pessoas comentem as escolhas e/ou alterem as listas originais. 

Surgem assim listas como uma certa “Music to fit the downs and ups of life” (numa tradução aproximada, seria “música para enfrentar os problemas da vida”, seja lá o que for que isso signifique). Clicando no link, encontra-se uma relação de 23 discos que mistura Sarah Vaughan e Miles Davis com Jane´s Addiction, Mozart e uma série de bandas do momento.

As listas nessa seção da Amazon vão se multiplicando e, se você não controla sua curiosidade, corre o risco de passar horas viajando de link em link para descobrir pérolas como “álbuns para quem se sente só”, “álbuns que eu nunca canso de ouvir”, “os melhores sons dos anos 70”, “os melhores vocalistas de todos os tempos” (prepare-se: até Dean Martin e Whitney Houston estão nesta), “as melhores capas de discos” e até mesmo “músicas que meu pai adora”. 

No mesmo espaço, a Amazon nos oferece bons motivos para riso, como quando alguém (os responsáveis nunca se identificam claramente) elabora sua lista dos “melhores CDs de rock já gravados” e inclui ninguém menos do que Ella Fitzgerald e Louis Armstrong! 

Já as quatro listas que estamos publicando nesta edição podem servir como uma boa amostragem do que melhor se fez em rock, jazz, MPB e erudito até hoje. A relação foi elaborada pela redação da HOME THEATER exatamente com esse objetivo. São apenas 20 títulos de cada gênero; listas maiores, com 60 títulos, estão disponíveis no site www.hometheater.com.br

Os títulos aparecem não em ordem de importância, ou de qualidade, mas cronológica. É uma oportunidade de conferir o que falta em sua discoteca e, quem sabe, descobrir coisas que você pensava nem tinham saído ainda em CD. Depois de analisá-las, você talvez queira sair por aí comprando o que encontrar. 

Antes, porém, um conselho: faça sua própria lista, troque com amigos, provoque alguma polêmica. Você verá que, após alguns dias, sua primeira lista já terá mudado bastante. Prova de que a brincadeira fez bem e você evoluiu em seus gostos musicais.

VOTE VOCÊ TAMBÉM

O site da revista HOME THEATER está inaugurando uma nova seção em que se pretende escolher os melhores CDs de todos os tempos. Todos os leitores vão poder participar, votando nos seus preferidos. Basta acessar no site www.hometheater.com.br o link “OS MELHORES CDs DE TODOS OS TEMPOS” e indicar os seus preferidos. 

Já estão no ar quatro listas, cada uma com 60 títulos, nos gêneros rock, jazz, MPB e música clássica. Essas listas foram elaboradas pela equipe da revista HOME THEATER apenas como referência. Cada leitor tem o direito de fazer listas completamente diferentes, ou, se preferir, de comentar as listas que estão no ar. 

A idéia é extrair dessa polêmica as escolhas mais democráticas possíveis, apontando aqueles discos que, efetivamente, são os preferidos dos brasileiros. Essas listas ficarão no ar por tempo indeterminado, e periodicamente estaremos divulgando os resultados das votações.

OS MELHORES CDs DE TODOS OS TEMPOS*

ERUDITO

A Flauta Mágica – Mozart: Karl Böhm, Deutsche Grammophon, 1964**

9a. Sinfonia – Beethoven: Herbert Von Karajan, Deutsche Grammophon, 1977**

Concertos de Brandenburgo – Bach: Trevor Pinnock, Deutsche Grammophon, 1982**

Carmina Burana – Carl Orff: James Levine, Deutsche Grammophon, 1984**

Sinfonia #40 – Mozart: Leonard Bernstein, Deutsche Grammophon, 1985

Sinfonia #6 (Patética) – Tchaikovsky: Herbert Von Karajan, Deutsche Grammophon, 1985

Sinfonia do Novo Mundo – Dvorák: Leonard Bernstein, Deutsche Grammophon, 1986

Abertura 1812 – Tchaikovsky: Lorin Maazel, CBS, 1986**

Peer Gynt – Grieg: Barbara Hendricks & Esa Pekka-Salonen, CBS, 1987

Carmen – Bizet: Jessye Norman & Seiji Ozawa, Philips, 1988

O Pássaro de Fogo – Stravinsk: Esa-Pekka Salonen, CBS, 1989

Música Aquática – Haendel: Neville Marriner, EMI, 1989

Concerto #1 para Piano e Orquestra – Tchaikovsky: Yevgueni 

Kissin & Herbert Von Karajan: Deutsche Grammophon, 1990**

Quadros de uma Exposição – Mussorgsky: Carlo Maria Giulini, Sony, 1990

Bolero – Ravel: Eugene Ormandy, Sony , 1992

Concertos para Piano – Beethoven: Maurizio Pollini & Claudio Arrau, Deutsche Grammophon, 1992

Cravo Bem Temperado Bach: Glenn Gould, Sony , 1994

Aída – Verdi: Renata Tebaldi & Herbert Von Karajan, Decca, 1999

A Canção da Terra – Mahler: Bruno Walter, Decca, 2000

As Quatro Estações – Vivaldi: I Musici, Philips, 2001

 

JAZZ

Lady Day – Billie Holiday, Columbia, 1933-1944**

The Charlie Parker Story – Charlie Parker, Savoy, 1945**

My Funny Valentine – Chet Baker, Pacific, 1954/56**

Plays W.C.Handy – Louis Armstrong, Columbia, 1954**

Ellington at Newport 1956 – Duke Ellington, Columbia, 1956**

Ella & Louis – Ella Fitzgerald & Louis Armstrong, Verve, 1956**

Porgy & Bess – Ella Fitzgerald & Louis Armstrong, Verve, 1958** 

Kind of Blue – Miles Davis, Columbia, 1959*

Sings The Gershwin Songbook – Ella Fitzgerald, Verve, 1959**

Time Out – Dave Brubeck Quartet, Columbia, 1959**

The Shape of Jazz to Come – Ornette Coleman, Atlantic, 1959**

Swings Shubert Alley – Mel Tormé, MGM/Polygram, 1960**

Sunday at the Village Vanguard – Bill Evans, Riverside/Fantasy, 1961**  

Duke Ellington & John Coltrane – Duke Ellington e John Coltrane, Impulse, 1962**

The Real Ambassadors – Dave Brubeck, Louis Armstrong e outros, Sony, 1962**

Getz/Gilberto – Stan Getz, João Gilberto e Astrud Gilberto, Verve, 1962**

A Love Supreme – John Coltrane, Impulse, 1964**

The Köln Concert – Keith Jarrett, ECM, 1975**

Citi Movement – Wynton Marsalis, Columbia, 1992**

Lush Life: The Music of Billy Strayhorn – Joe Henderson, Verve, 1991**

 

 

ROCK

Highway 61 Revisited – Bob Dylan, CBS-Sony, 1965**

Pet Sounds – The Beach Boys, Capitol-EMI, 1966**

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – The Beatles, EMI, 1967**

The Doors – The Doors, Warner, 1967**

The Velvet Underground & Nico – Velvet Undergroud, Verve-Polygram, 1967**

Electric Ladyland – The Jimi Hendrix Experience, Polydor, 1968**

Crosby Stills & Nash – Crosby Stills & Nash, Warner, 1970**

Sweet Baby James – James Taylor, Warner, 1970**

Woodstock – Vários, Warner, 1970

Led Zeppelin IV (Four Symbols) – Led Zeppelin, Warner, 1971**

What’s Going On – Marvin Gaye, Motown, 1971*

Songs in the Key of Life – Stevie Wonder, Motown, 1976**

Heroes – David Bowie, EMI, 1977**

Trans Europe Express – Kraftwerk, Capitol-EMI, 1977**

Never Mind The Bollocks – Sex Pistols, Virgin, 1977**

The Sun Sessions – Elvis Presley, RCA-BMG, 1978

Van Halen – Van Halen, Warner, 1978**

London Calling – The Clash, CBS-Sony, 1979**

Thriller – Michael Jackson, CBS-Sony, 1982**

Nevermind – Nirvana, DGC-Universal, 1991**

 

MPB

Caymmi e Seu Violão – Dorival Caymmi, EMI, 1960**

Tropicalia ou Panis et Circensis – Vários, Polygram, 1968**

Construção – Chico Buarque, Polygram, 1971**

Detalhes – Roberto Carlos, CBS-Sony, 1971**

Clube da Esquina – Milton Nascimento, EMI, 1972**

Acabou Chorare – Novos Baianos, Som Livre, 1973**

Secos & Molhados – Secos & Molhados, Continental, 1973**

Krig-Há Bandolo! – Raul Seixas, Polygram, 1973** 

A Tábua de Esmeralda – Jorge Ben, Polygram, 1974**

Caça à Raposa – João Bosco, BMG-RCA, 1975**

Falso Brilhante – Elis Regina, Polygram, 1976**

Alucinação – Belchior, Polygram, 1976**

Nos Dias de Hoje – Ivan Lins, EMI, 1978**

Realce – Gilberto Gil, Warner, 1979**

Babilônia – Rita Lee, Som Livre-EMI, 1979**

Cinema Transcendental – Caetano Veloso, Polygram, 1979**

Cabeça Dinossauro – Titãs, Warner, 1986**

As Quatro Estações – Legião Urbana, EMI, 1989**

Antonio Brasileiro – Tom Jobim, Globo-Columbia, 1994**

Verde Anil Amarelo Cor-de-Rosa e Carvão – Marisa Monte, EMI, 1995**

 

*Lançamento

**Registro das gravações originais